José da Xã, escrever é uma doença incurável
Quando recebemos um livro de borla, enviado pelo autor, com uma simpática dedicatória de amizade, conseguiremos fazer uma crítica isenta à obra?
O livro é um grande livro, não em tamanho, no conteúdo. Como objecto é bonito, está de parabéns a Olga Cardoso Pinto pelas ilustrações e prático, é fácil de transportar e de ler um conto ou dois enquanto se espera pelo autocarro ou pela conta do restaurante.
Ao lermos este livro que mistura histórias verídicas, com episódios auto-biográficos, com experiência de vida, enfim são fragmentos de vida, de vidas, dizia, ao lermos este livro sentimos que estamos lá, eu tive a sensação de estar sentado numa esplanada com o Zé da Xã e com o Ivo.
"Então Ivo, mataste-a?"
"Ela é que pediu para ser morta. Viste como aquela desmazelada me tratou, Pedro? Eu toda a vida fui um homem de trabalho, não merecia aquilo, queria amigar-se, tudo bem, eu não fui atrás dela, ela é que me veio provocar. Não me importava de ser corno mas corno manso à frente de todos, não".
"Foi melhor assim?" perguntou o José da Xã
"Olha, olha, José, não foste tu que escreveste a história? Se o Ivo foi preso a culpa é tua, a caçadeira era velha podia encravar" disse eu.
O Ivo disse, novamente: "Nada vale a morte de outra pessoa".
Bebi copos de vinho, comi chouriço assado, pão e azeitonas na taberna do ti' Acácio e em todas as outras que aparecem no livro, sorri e desculpei as poucas gralhas, fui apanhado de surpresa muitas vezes, fiquei triste com a doença da Gracinda, fiquei indignado com a doença do cego, viajei de avião com o Gui e com o Joy, enfim, vi e senti muita coisa, tenho pena de não ter visto o Céu como o ressuscitado.
Excelente livro, José, parabéns.
Adenda em 2024.06.13
Obrigado à equipa do Sapo pelo destaque, o José da Xã merece.