O local do crime
Desafio de uma foto à sexta-feira ou lá o que é.
[Vou sair de fininho para não deixar vestígios]
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Desafio de uma foto à sexta-feira ou lá o que é.
[Vou sair de fininho para não deixar vestígios]
Chamava-se Chain, Petra Chain.
Tinha cinquenta e poucos anos quando se iniciou nos blogs, tinha um blog em blogspot.com.
Anos mais tarde, muitos anos mais tarde, descobriu a plataforma dog.pt [nome fictício].
Na juventude, Petra, tinha sido uma mulher importante, tal como os homens teciam palavras e as publicavam em jornais e livros, ela tecera fios.
Finos fios de seda, com paciência, com lagartas, com casulos, fios que eram tecidos com mãos ágeis e com sabedoria.
Fios que faziam tecidos, tecidos que faziam roupas, roupas que faziam a felicidade de quem os vestia.
Os bichos da seda bicharam, deixaram de se reproduzir.
O trabalho, a arte de Petra, morreu.
A paciência, a agilidade e a sabedoria de Petra não morreram, canalizou-as para a escrita, passou a tecer palavras, como os homens.
Os anos de juventude tinham passado mas a fama ainda não chegara.
Tornou-se famosa nos blogs, primeiro no estrangeiro mas , principalmente, na plataforma portuguesa.
Adorava escrever, adorava ser lida, adorava comentar gostava ainda mais de ser comentada.
Quanto descobriu que a dog.pt tinha um contador de comentários, o hot-dog, Petra não se ficou.
Adorava ser a primeira, sabia que os comentários eram considerados até à meia-noite, dormia uma boa sesta, às vezes, até às sete da tarde, para estar fresca à noite.
A partir das 22h00 verificava os comentários no seu post do dia e nos outros, nos mais votados.
Por vezes Petra estava em desvantagem com cerca de vinte comentários a menos, nunca desanimava.
Criava nicks como comadre Miquelina, compadre Ambrósio, comentava, respondia aos comentários que ela própria fizera com outros nomes, escrevia uns comentários no telemóvel outros no computador, dizia: "sua velha"; respondia: "eu não sou velha". Punha bonecos com sorrisos ou com polegares para cima, respondia com caras feias ou com polegares para baixo.
No final da noite era sempre a mais comentada, a hot-dog.
Era famosa, era boa escritora, estava feliz.
Ontem deitou-se com um sorriso nos lábios engelhados, fora a mais comentada durante o fim-de-semana.
Hoje a hot-dog, não aqueceu, não mais aquecerá, hoje não haverá post nem competição, o corpo arrefece e será fechado num casulo, como aqueles que ela desfiara na juventude.
A fama é sempre efémera nem sempre a lagarta se transforma em borboleta.
Às vezes temos pressa, às vezes a pressa é justificada, às vezes o tempo está contado.
A verdade é que depois de ler isto, obrigado J. Rentes de Carvalho, nunca mais vi a Torre de Belém com os mesmos olhos.
Vejo-a sempre com outras cores, mais corada, a fazer-me corar.
Dia de correr, dia da Irlanda.
Não foi dia de recordes do Guinness, mas foi dia de vitórias verdes, da Etiópia e do Quénia.
Para o dia acabar em beleza, à noite, em Alvalade, com um atleta da Costa do Marfim em campo, Sporting 6 / Boavista 1.
Há dias para festejar.
Há dias para emborcar.
Há dias verdes, a cor da esperança.
Há gralhas e gralhas.
Há as que nos fazem rir, há as que nos indignam e há as que são verdadeiras.
Abaixo o pão, habitação, saúde e educação é delicioso.
Abaixo o preço disso tudo.
O cartaz do Sérgio (têm de olhar com atenção) fala em Liberdade/25 mas deveria ser Liberdade/50, Sérgio.
Cinquenta anos de, suposta, liberdade.
Que o futuro seja verde, esperança e branco, paz, também.
Para o peditório dos amanhãs que cantam e das papoilas que gritam num campo qualquer, já dei.
Não gosto de gritarias, prefiro acções.
A penicilina terá sido descoberta ou achada?
No dia oito recebi flores.
"É o dia da mulher, gosto muito de ti. És a minha paixão, é contigo que quero estar".
Ele fez sexo, eu amor.
Foi na sexta-feira.
Depois veio um fim-de-semana como todos os outros.
A mãe dos filhos, a mulher por quem não sente nada, com quem vive, com quem dorme, comigo está sempre acordado, acordado demais, nunca dormimos, nunca acordámos juntos.
Foi fim-de-semana de eleições, mais uma desculpa para ter de estar com a família, para ter de estar em casa.
Estou só, dentro da minha solidão.
As flores que nunca devia ter recebido estão no lixo, junto com esta relação em que nada recebi, só dei.
Nunca me senti mulher.
Olhando para trás, sempre me senti usada.
CHEGA!
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