O pai e o pesa-almas
Há quem lhe chame pediatra, prefiro chamá-lo pesa-almas, pesa o corpo do bebé mas nesse simples gesto de pegar no meu filho, com dois dias de vida, colocá-lo na balança, é a minha alma que está a ser pesada, a minha competência, a capacidade de cuidar, de alimentar a fragilidade (mais a minha que a dele) acabada de nascer.
Serei um bom pai?
Para que me meti eu nisto?
Duas perguntas sem resposta.
Se ainda tivesse a guedelha da minha juventude atiraria com ela para trás num rápido movimento e responderia à jogador de futebol: "vou dar o meu melhor, amanhã é outro dia, temos de levantar a cabeça".
Assisti a tanta conferência de imprensa, a tantas falas, de malta do futebol, escritas pelo mesmo guionista, que só me ocorre; "hoje chorou muito, amanhã pode ser melhor".
Chorar faz parte de ser sportinguista, ser resistente (odeio os neologismos; resiliente, proactivo e outras importações manhosas para a nossa Língua), ser esforçado, ser dedicado e acima de tudo ter esperança, é a essência do sportinguismo.
Reparo agora que infere-se do parágrafo anterior que é mais importante ter do que ser, depende daquilo que estivermos a falar, os valores que vou tentar passar ao meu filho (nasceu a 20.05.20) é que é mais importante, mais digno, ser uma rica pessoa do que ter riqueza (se puder conciliar as duas, melhor).
O corpo do meu menino tinha o peso certo, a minha alma não sei se estará à altura do desafio.